sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ponderações


Primeiro, como Bacharel, discordo veementemente da maneira unilateral com que foi elaborado o texto alusivo à regulamentação da profissão de Filósofo, bem como da proposta em si, na forma em que foi redigida. Por outro lado, observo que se existe a discordância relacionada aos aspectos acima mencionados, a mesma não alcançou o destaque merecido, haja vista a pouca divulgação na mídia a esse respeito.
A despeito da legitimidade ou não do órgão a que se refere a parte última do texto do projeto de lei em comento - ao menos no que concerne a sua influência no meio filosófico, em especial como elemento agregador capaz de agenciar expectativas de tal monta junto a seus pares - a falta da criação de um fórum amplo de debates capaz de gerar um consenso - para além da cultura da reclamação - acerca do tal projeto de lei e, a partir daí, redigir uma moção de apoio ou repúdio, pode revelar no mínimo uma omissão dos bacharéis em Filosofia, e o que é pior, pelo seu silêncio, refletir a desunião (da classe?) inclusive entre aqueles que hoje ostentam o mister de ilustres professores.
É assim que se perpetua o velho preceito:

Scienti et conscienti non fit injuria.

Segundo, discordo da opinião de que a aprovação da lei em destaque resultará na reserva de mercado para profissionais sem competência para o desempenho das atribuições precípuas a que alguns mencionam, ou na iminência do cerceamento do pensamento pela restrição de seu exercício mediante conformidade à regulamentação de uma profissão, ou ainda a inviabilidade do exercício profissional do filósofo para além daquelas conhecidamente elencadas.
Ao contrário do que se imagina, para além dos muros das universidades há um mundo ávido por um modo alternativo do pensar, ou seja,  há uma demanda na área de consulta em filosofia no que concerne tanto ao aperfeiçoamento das organizações corporativas quanto no interesse do público leigo pelo conhecimento afim, este facilmente verificável nas mídias.
Tanto o questionamento sobre os rumos do modo de produção capitalista quando posto em relação ao binômio “crescimento econômico” versus “sustentabilidade”, quanto a finalidade de uma atividade laborativa altamente especializada refletem que as organizações e os indivíduos invariavelmente necessitam de um viés interpretativo capaz de favorecer a alocação dos seus empenhos sob uma perspectiva que ultrapasse o pensamento do mesmo, o qual é intrínseco a sua própria atividade. No intento de se obter essa visão abrangente da realidade, o filósofo – na qualidade de consultor - com seu modo sui generis de análise e conhecimento, não seria um coadjuvante?
Por último, em que pese parecer ser o lugar da Filosofia o de dissolver-se no seio das ciências tecnicizantes (v. M. Heidegger), seu contrapeso se faz necessário enquanto produção de um novo pensar numa era técnico-científico-industrial em que, pela interpelação produtora, nos isentamos da responsabilidade de cuidar de nosso destino histórico.
Mutatis mutandis, seria oportuna a mobilização para o aperfeiçoamento daquele projeto de lei mediante consenso, sobretudo no sentido de que seja reconhecida e preservada a formação acadêmica – o bacharelado - bem como sua inclusão no seio do mercado - não como “filósofo” - mas como profissional, além de educador e pesquisador, já que partícipe das áreas do conhecimento humano as quais incorrem no fomento do que deve ser transformado em nossa sociedade rumo ao seu pleno desenvolvimento.

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